domingo, 23 de julho de 2006

Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

A dor...
A dor que sinto no pulso
Nasce do sentimento de impotência
E de algum tipo de ira
Que me visita.


Li, ainda adolescente, com muito pesar o livro Brasil: Nunca Mais.
De uma forma drástica o autor contava os desmandos de um País dominado pelo medo, pelo pavor de pessoas que, insatisfeitas com o sistema perverso no qual viviam durante a Ditadura Militar dos anos sessentas, ousaram fazer algo. Pessoas que tentaram modificar aquela situação de injustiça e autoritarismo através de suas músicas, poesias, desenhos, pinturas. Qualquer meio de expressão serviria para denunciar a necessidade urgente de mudança até que veio a censura e... Quase ficamos sem voz.
Eu não sou dessa época especificamente.
Nasci em 1972. Quando o que vivíamos era - ainda - um processo de silêncio e uma lenta caminhada para a Democracia. A maioria dos adultos que conheci eram pessoas de boa conduta moral e relativo sentimento cívico.
Todas as sextas-feiras nos enfileirávamos a frente da Bandeira Nacional e, com a mão estendida sobre o peito esquerdo, cantávamos: "Verás que o filho teu não foge à luta."
Nos anos 80 conseguimos, finalmente, o direito de escolher nossos representantes e sonhar que, agora sim, teríamos voz e vez. E vivemos emocionantes momentos com os Senhores Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, dentre outros.
Acabei de assistir a algumas curtas-metragem. Um deles mostrava várias janelas o tempo todo e contava algumas histórias de pessoas que viveram clandestinamente no período da Ditadura. E que mesmo depois desse momento político não conseguiram mais recuperar suas identidades. Uma lástima!
Uma das personagens entrevistadas afirmou duas coisas que me fizeram vir aqui escrever.
A primera marca que me deixou foi a de anunciar o sentimento que lhes invadia quando ouviam dizer que alguém estava desaparecido. Ela afirmava que ninguém sabia se esse desaparecido já teria sido morto pelos militares, se estava sendo continuamente torturado ou se iria aparecer algum dia, matando as saudades dos seus queridos.
A segunda foi a afirmação: meus anseios daquela época são os mesmos de agora.
Ora! Não vivemos a tal da Democracia? Perguntaríamos!
Eu desconfio que aquela mulher estava em poucas palavras questionando sobre que tipo de democracia temos neste País.
Uma democracia onde as pessoas são olvidadas ou preteridas.
Sistema político e econômico em que um Presidente da República sobe ao governo mas não alcança o poder porque tudo está em mãos dos banqueiros e das grandes potências internacionais, além dos interesses de grupos dominantes internos.
Onde nossa humanidade é posta em último lugar.
Penso que ainda vivemos em tipos tão ruins como os daqueles dos Anos Sessenta: as imposições são ideológicas e estão acima do meu senso de humanidade. Quase não consigo suportar! A mídia - em especial a "grande mídia", a imprensa, as empresas, as propagandas, a poluição social.
( Gente, quem é que oferece nossos jornais mesmo, hein? São os banqueiros, é?).
Nossos valores sucumbem ou se balançam, não se firmam e vemos com naturalidade nossos irmãos passarem fome. Quase sempre até os culpamos por suas mazelas.
Preciso, então, repetir o poeta:

" Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos como nossos pais."

1 Comentários:

Blogger portuguessuave disse...

Li e gostei...sou de portugal e temos uma pagina que é..mais que lagosta.blogspot.com...feita por homens para se provocarem e gira em torno de idas a Espanha..Cumprimentos

31 de julho de 2006 às 12:42  

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