sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Terno de Reis - manifestação popular


Há coisas e pessoas que passam por nossas vidas forçando-nos ou conduzindo-nos a ver horizontes que jamais havíamos visto.

O curso de Pedagogia da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) foi, para mim, isso: um instrumento para me fazer abrir os olhos quanto à existência dos excluídos e para despertar, em mim, desejo de ir adiante, conhecê-los melhor, verificar muito além de seus limites, suas possibilidades e formas de expressão existencial.

Outro dia recebi a visita do Sr. Everaldo. O famoso Chiquim da Murinha. Flautista de Terno de Reis. E fiquei parada, no meu cantinho, ouvindo aquela figura de imensa riqueza popular com sua bicicleta, querendo resolver problemas ligados à sua comunidade num bairro periférico de Jequié – Ba.

Ou seja: ele está engajado! Socialmente ativo, apesar da idade, ele me convida com imensa alegria para assistir às próximas apresentações do seu grupo.

Foi o bastante para me fazer pesquisar, ler um pouco mais sobre aqueles misteriosos e belos sons que aparecem nas ruas desta cidade no fim do ano.


Eu não tinha muita clareza, mas agora entendo que Os Ternos de Reis são ligadas às comemorações natalinas. Manifestações populares que, usando o sagrado e o profano, festejam a vinda de Cristo.

Vejam só um pouco do que li e vi a respeito do assunto, em relação à letra e à música do Terno de Reis (Cortez):

“As estrofes de nossos ternos de Reis, são quadrinhas na maioria das vezes de feitura popular, heptasílabas que narram episódios referentes ao nascimento de Cristo. Podemos classificá-las como religiosas e profanas. As primeiras são aquelas que no seu conteúdo mantêm bem vivo o motivo cristão das comemorações da Bíblia. As profanas são as que fogem ao tema do ciclo natalino religioso. Mas antes desta narração encontram-se os versos de chegada ou de saudação, à porta da casa. Os versos compreendem vários ciclos: anterior ou véspera de 25, dia de Natal, de 25 à 1º do ano e de 1º de janeira ao dia de Reis. As estações são cantadas de acordo com o decorrer dos dias, e obedecem as seguintes principais frases: Chegada, Entrada, Louvação, Peditório, Agradecimento e Despedida.”

Disso, Cortez, eu não sabia! Obrigada pelas informações!

Há algum tempo eu e meus sobrinhos Camila, Netinho e Luan ficamos até muito tarde tentando saber de onde vinham os sons do Terno de Reis e não encontramos. Eles estavam por detrás de algum muro alto. Ou seja: as casas dessa cidade estão cada vez mais isoladas. Menos vizinhos, menos contato de povo com o povo. E, infelizmente, não encontramos o grupo. Um prejuízo para nós.

Este ano, não: já tenho o telefone do Sr. Chiquim e vou, sim, ver algumas das apresentações. Cultura popular é pouco do que nos resta. E sem essa de preconceito! Se eles não estão abertamente na mídia é por serem muito bons e comunicarem ao povo, ainda, coisas do povo. Muito bom. Muito bom!

E eu quero muito ir! Quero conhecer melhor isso tudo!



Fonte: foto

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1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Olá, Ieda!

Espero que você tenha tido a oportunidade de conhecer o Terno de Reis.
Sou de uma família de cantadores de Reis aqui do litoral do Rio Grande do Sul.
Como muitos já estão idosos, outros doentes ou morando afastados, resolvemos, eu e minhas tias, sair cantando os Reis, aqui em Canoas-RS.
Fizemos os versos, buscando o que tínhamos na memória e juntando com nossas vivências e posso dizer: Sinto-me muito feliz! Parece que resgatar essa tradição familiar e regional foi tão importante, mexeu com uma energia atávica fundamental além de toda carga espiritual que representou para mim a Louvação.
Estamos planejando montar um grupo de Terno de Reis com os mais novos e seguir com esta bela tradição.

Um Feliz 2007. Obrigada.
Andréia Pepe.

7 de janeiro de 2007 às 22:31  

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