terça-feira, 22 de abril de 2008

O ano em que meus pais saíram de férias.


Ontem tive o prazer de assistir O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, que foi o último filme do Paulo Autran.

O filme provavelmente foi barato, como quase todo filme brasileiro; mas é justamente aí que, segundo minha visão, está o segredo do que é feito aqui: já que não temos muito dinheiro, nosso argumento é quase sempre rico e inusitado. A gente ganha pelo texto, pelos atores...

Apesar de amar cinema minha visão não é técnica, confesso. Então minhas críticas são mais leves, talvez... Vamos ao filme...

Os pais, militantes do Partido Comunista em plenos anos 70, estão fugindo da Ditadura Militar e deixam o filho na casa do avô que morre. O restante do filme não vou contar para não perder a graça.

Só quero pontuar as dualidades culturais vividas pela criança. Ele fica num bairro em São Paulo que tem italianos e judeus. Tem até descendente de grego. É uma verdadeira mistura. Um Senhor judeu cuida do menino que tem uns doze a treze anos.

O menino, no futebol, vê alguém se benzendo para ter sorte no jogo e faz o mesmo. O judeu soca-lhe um tapa na cabeça.

A criança brinca de bola no corredor do prédio onde ficou, com um manto sagrado dos judeus. Isso lhe custa um tapa na cara.

Ele estranha o fato de ter de comer peixe de manhã, mas no finalzinho do filme ele serve a um visitante peixe afirmando que aquilo seja bom para a memória.

Ele visita tranqüilamente as cerimônias judias, sabe conviver em paz com os italianos. Não se irrita por ter que conviver com muitos idosos e nem se ressente das outras crianças que falam mal de seus pais.

Ele apenas vive. E aquilo é muito bonito. Não argumenta, não questiona, não está certo sobre nada, não tenta convencer ninguém. Não tem teses. Não é excessivamente nada, além de torcedor do Brasil, que vai ao México lutar pela Copa do Mundo em 1970.

Ele é só uma vida. Só uma beleza. Apenas um olhar ingênuo de criança que cativa a todos.

Apenas não entende porque seus pais se demoram tanto de voltar e passa o filme todo na expectativa de revê-los. Sua necessidade passa apenas por amar. Esse ponto, no filme, é sofrido, embora a gente sinta a leveza infantil de sobreviver.

Não estou fazendo apologia à ingenuidade de quem tudo aceita, mas bem que a gente poderia ser mais leve, menos 'reclamante', menos nossas próprias certezas, mais vida.

Vale a pena vê-lo. É isso que sempre escrevo quando vejo algo que, de alguma forma, celebre a existência.

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