quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Meu paiol


Moramos, aqui em Jequié, interiorzinho da Bahia, entre a Caatinga e a Mata. Então, como já escrevi em outro espaço aqui, o clima oscila muito. A gente, quando faz frio aqui, sente a influência da mata e morre de frio. Tipo 13 ou 14 graus. Para nós isso é gelo.

Quando faz calor... muitíssimo calor. Chegamos a ter 45 graus. Ufa! Haja água, filtro solar e sombra!

Temos também o “Santo” Elomar. Um cabra retado de Vitória da Conquista que, da Casa dos Carneiros, consegue traduzir sofrimento em beleza, como fazia nosso memorável Luiz Gonzaga.

Um bocadinho de Elomar para você, neste fim de ano. E que a esperança que ele sinaliza em sua poesia bata em nosso rosto com ar de quem gosta de ser feliz.



Campo Branco (Elomar)


Campo Branco minhas penas que pena secou
Todo bem qui nóis tinha era a chuva era o amor
Num tem nada não nóis dois vai penano assim
Campo lindo ai qui tempo ruim
Tu sem chuva e a tristeza em mim

Peço a Deus grande Deus de Abraão
Prá arrancar as pena do meu coração
Dessa terra sêca en ança e aflição
Todo bem é de Deus qui vem
Quem tem bem lôva Deus seu bem
Quem não tem pede a Deus qui vem


Pela sombra do vale do ri Gavião
Os rebanho esperam a trovoada chover
Num tem nada não também no meu coração
Vô ter relempo e trovão
Minh’alma vai florescer

Quando a amada e esperada trovoada chegá
Iantes da quadra as marrã vão tê
Sei qui inda vô vê marrã parí sem querê
Amanhã no amanhecer
Tardã mais sei qui vô ter
Meu dia inda vai nascer

E essa tempo da vinda tá perto de vín
Sete casca aruêra cantaram prá mim
Tatarena vai rodá vai botá fulô
Marela de u’a veis só
Pra ela de u’a veis só



Glossário
Campo Branco: Tradução de Caatinga, expressão indígena
Ança: ânsia
Iantes das quadra asmarrã vão ter: Antes do ciclo biológico das cabras, elas vão parir
E esse tempo da vinda tá perto de vim: Expressão bíblica, derivada da profecia:
os tempos da ressurreição estão próximos.
Sete casca aruêra: árvore medicinal
Tatarena: árvore que se abre em flor, anunciadora da chuva

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1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Minha linda amiga,

que alegira imensa te re encontrar, me re encantar
com o canto que brota
de tuas palavras...

Saudade dessa terra
seca, sol e espinho
mas, como negar a terra
que nos acolhe feito ninho?

Um abraço grande e demorado. Estou interessado na arte do bonsai, inclusive cultivo alguns, se você tiver algum material a esse respeito, por favor, mande para meu email. Foi o "bonsai" que me levou a te reencontrar. Deus te abençõe.

José Carlos Vaz
vazpoeta@gmail.com

23 de janeiro de 2008 às 12:40  

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