quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Limites e compatibilidades entre o ser e o ter.

Ontem eu estava num dos salões do centro daqui de minha cidade aguardando uma pessoa e presenciei uma cena interessante.

Chegou um rapaz muito bem arrumado, desses que a gente costuma chamar de 'metrosexual'. Todo arrumadinho, cheio de etiquetas, alto, loiro e elegante. Uma figura bonita. Ele havia ido ali clarear ainda mais o cabelo. Talvez fazer as unhas...

O que me fez refletir é que além do maravilhoso e diferenciado atendimento que ele recebeu, ofereceram-lhe uma revista e, na tentativa de tratá-lo da melhor forma possível, a recepcionista lhe sugeriu uma revista para ler. Ao ser perguntado sobre qual revista prefereria, ele, orgulhosamente respondeu: "tal revista, de preferência." E eu fiquei agoniada. Eu queria ter questionado a preferência política da revista escolhida e ter dito que eu teria vergonha de ler aquilo na vista das pessoas. Não! Não era uma revista pornográfica! Era uma dessas revistas semanais que dão a impressão (e só a impressão) de que está instruindo e passando informações. O problema está aí: mensagens tendenciosas, cheias de pouca ética e rara possibilidade de demonstrar claramente vários pontos de vista sem qualquer viés.

Outro dia, enviaram-me alguns exemplares e, ao final do envio, uma moça desta mesma revista ligou para meu telefone comercial para firmar com ela sua assinatura. Eu pedi que não mais me enviassem aquilo e fui veemente nesse sentido. Não quero perder meu tempo lendo o que não me interessa.

Está bem. Assumo! Estou sendo radical. Talvez fosse interessante, em estando num salão de beleza da vida, ler algo assim ao menos para ter o que falar contra... conhecer é interessante, mesmo que seja o que você não concorda. Só não tenho tido tempo para isso.

No segundo semestre do ano passado esta mesma revista entortou falas de vários intelectuais brasileiros que são (como quase todo intelectual de bom senso) contra o neoliberalismo e pôs em xeque o pensamento dessas pessoas que tanto contribuem para o pensamento desta nação. Enviesou reflexões, distorceu idéias e tentou fazer-nos entender que no Brasil não se pode pensar. Bem a gosto da clara intenção dos países ricos: temos que ser mão de obra barata e não especializada: que eles produzam conhecimento e nós apenas o consumamos. É lastimável... Assim, o nosso ensino superior não passa de reprodutor de conhecimento (sem considerar outros níveis de educação), temos nossos pontos de vista pautados a partir da mídia e dizemos orgulhosos que estamos em desenvolvimento (?). Pedro Demo afirma que enquanto o primeiro mundo pesquisa os outros dão aulas. Rs.

Há uma diferença entre inteligência, informação, conhecimento e sabedoria.

Nada contra ser bonito e se cuidar. Só fica a contradição: ser e ter se confundem facilmente. Para nosso prejuízo.

Escolhi uma revista sobre maquiagem. Aprendi a usar melhor meu baton.

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4 Comentários:

Blogger Joe Edman disse...

Nossa! Que texto bom! Tá ficando boa nisso ein? Daqui um dia vou te ver em alguma coluna de jornal ou revista! Dona Lya!

11 de janeiro de 2006 às 23:12  
Anonymous Anônimo disse...

Joe tem toda razão. O seu texto é muito bom! Parabéns pelo estilo leve e bem humorado.

Marcos

16 de janeiro de 2006 às 20:49  
Anonymous Anônimo disse...

Querida infelizmente esse texto reflete a nossa realidade.
O que sabemos fazer e reproduzir. As poucas pessoas que criam no Brasil ficam desconhecidas. Buaaaá!
Espero que isso mude o mais rápido possível.
Parabéns pelo blogger!!!
Bjs
Fábio Porto

17 de janeiro de 2006 às 14:09  
Anonymous Anônimo disse...

huahiaihaiuhaa
esse troço me ajudo no meu trabaio do colegio xD
seu txt n intendi nda
+ ta valendo
:D

hueahiehae valw ae tia =D

12 de dezembro de 2006 às 09:45  

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