quarta-feira, 9 de maio de 2007

Autonomia


Todas as vezes que Paulo Freire afirma que a história da vida da gente não é algo dado, acabado, definido e que, potencialmente, o homem tem a oportunidade de interferir em sua própria vida para mudar seu destino eu fico sinceramente frustrada comigo mesma.

O fato é que, embora saiba que algumas escolhas que adotei como estilo de vida tenham sido equivocadas eu ainda insisto em continuar em meu espaço de conforto (conforto questionável), me limitando a seguir na mesma linha, com o mesmo pensamento ingênuo e iludido de que é por aquele caminho mesmo que eu devo seguir.

A menos que surja alguém ou algo forte o suficiente para me impulsionar para cima e para frente, rompendo os desencontros com a felicidade, eu insisto na tendência de me manter no meu cantinho.

No lugar de sempre.

Ainda que infeliz e prejudicada.

Pessoas me instigam... situações me questionam.

Confesso que sair do lugar da acomodação é sempre uma tortura para mim.

Dar um passo além de mim mesma me emancipa, sim. Porém o seguir adiante, em momentos assim, é doloroso pois carrega no seu todo rompimentos, decisão. De-cisão. Cisão. Corte. Dor. Ferida.

Penso: mas a vida estava tão confortável, tão boa...

Eu já havia me acostumado com a rotina, com o suposto conforto, com a mesmice, com as migalhas que me foram oferecidas.

“O homem é condenado a ser livre.” É o que afirma o existencialista Kierkegaard.

Com essa afirmação eu tenho o peso da responsabilidade de ser livre.

Diante dessa liberdade eu sofro porque a liberdade implica escolha, que só eu mesma posso fazer.

Preferiria optar por não escolher.

Decidir não é lá a coisa mais fácil do mundo.

Mas “não agir” por si só, já é uma escolha.

E eu não tenho outra alternativa além de ser livre e aceitar a Graça como uma doce condição para minha vida.

Como naquele dia em que eu ia me afogando numa das praias de Itacaré – Ba e um desconhecido que até hoje não sei quem, me empurrou com os pés para o lado da areia.

Aos meus olhos ingênuos eu estava sendo agredida aquela pessoa.

De fato, alguém me estava salvando, me impulsionando para o lado melhor em que eu poderia respirar e tocar a vida até o fim. O lado da vida, da existência.

Coisa engraçada essa!

Eu nunca pude agradecer àquela pessoa pelo ‘empurrão’. Também não sei se ele tinha a noção sequer de que estava me salvando, mas foi exatamente isso o que aconteceu porque naquele momento eu não encontrava mais o chão do mar.

Ele, meu desconhecido, me salvou.

A quem quer que tenha sido o ajudador daquele dia em minha adolescência, queria agradecer. Estou viva hoje graças àquele momento. Dentre tantos outros.

Mesmo que eu não possa agir por mim há sempre alguém por perto para me dar uma dica, aclarar a visão e ajudar.

Se não uso a liberdade, se não consigo perceber a graça e a libertação, se não aceito ajuda dos outros, se não posso decidir por mim, ainda assim terei sempre, de alguma forma, uma nova chance.

Enquanto estiver viva.



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