quarta-feira, 23 de maio de 2007

Presença Paterna


A única coisa que me fazia ter coragem e voltar a dormir tranqüila nas noites de medo, quando eu era criança, era bater à porta do quarto de meus pais.

Mainha, sempre amorosa, ia abrir a porta com imensa boa vontade e nem precisava dizer-lhe nada: ela já sabia que eu queria amanhecer com eles. Entre eles.

Então eu me aproximava de papai que tinha uma barriga grande, esteticamente feia, mas emocionalmente perfeita para mim.

E eu ficava ao lado daquela barriga. Debaixo dela.

Eu era uma criança tão magrinha e pequena que ficava quase completamente protegida por aquele abdômen avantajado.

Ali, nem os monstros do Robô gigante, nem a Cuca, nem o Minotauro, nem o Bicho Manjaléu, nem os mortos, nem os sapos malvados ou qualquer outra criatura da escuridão poderia me ameaçar.

Papai era meu herói, meu ícone.

De alguma forma ainda o é.

Mesmo que não tenha mais aquela maravilhosa barrigona e eu tenha descoberto algumas falhas nele... E quem não as têm? (Descobri com o passar do tempo tantos defeitos em mim mesma!).

Em meus últimos (e parcos) estudos psicanalíticos tenho observado que algumas mulheres, senão a maioria, transferem para seus pares a idéia que tiveram de seus pais na infância.

A concepção de Deus também, para muita gente, passa por esse aspecto: a idéia que você tem de seu Deus será a mesma que tem de seu próprio pai.


Foto: Giulia e seu pai.

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1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Iêda, que maravilha, tão simples e tão completo. Voltei ao tempo e revi esse " Bio" de barriga grande, assim como também a Cuca, o Bicho Manjaléu, os nossos esconderijos, lembra?
Que maravilha, simplismente ADOREI!
assim como a nosso pai Benedito.

24 de maio de 2007 às 11:05  

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