quarta-feira, 28 de maio de 2008

Espiritualidade x Deificação humana



Ontem eu e Joe ficamos até tarde falando sobre os desmandos da igreja dita evangélica atual (a 'Gospel') e da tristeza que sentimos ao percebermos tanta desorientação, falta de pureza, de respeito, de conhecimento da Palavra e de espiritualidade desses dias.

Nosso raciocínio foi iniciado a partir de nossa área de trabalho que é a música.

Falamos sobre a perversa Indústria Cultural (ver Adorno) que não poupou sequer a igreja atual. Todos, com raríssimas exceções, os programas veiculados na mídia estão injustamente vinculados a consumismo, a redução do ser humano a simples objeto, à coisificação da pessoa humana. É como se fôssemos jogados à sorte de todo tipo de vento de doutrinas, de pensamentos, de produtos que “você tem que comprar”.

O resultado disso tudo é um tremendo desprezo ao conhecimento, ao bom senso e à responsabilidade de se construir ações que realmente honrem e dignifiquem a vida, ao ser humano e ao próprio Deus.

Noções de estética, de respeito, de sinceridade, de pureza, de reverência às particularidades culturais passam longe de todo arcabouço de conhecimento (sic) de uma grande massa de pessoas que se dizem ‘apaixonadas’ e envolvidas na obra de Deus. Ética é coisa que nem de longe se sente o perfume, nesse caso.

Esta semana eu recebi a visita de uma amiga querida que afirmava desejar sair de sua igreja para fazer parte da minha. Ela é instrumentista e já havia sido convidada a trabalhar em minha igreja por várias vezes, mas nunca desejou sair da sua. O curioso é que eu não sou pastora – graças a Deus!, não sou tesoureira da igreja nem posso decidir pela igreja qualquer questão que passe por finanças. E senti dela o desejo de participar, mas de forma remunerada da nossa igreja.

Eu não estou questionando se os ditos ‘levitas’ devem receber dinheiro por seu trabalho ou não. Só acredito que essas coisas, já que a igreja não é uma empresa, passam necessariamente por gostar da igreja para onde se está indo, ter comunhão com os irmãos, fazer o trabalho – o que tiver de ser feito e estiver conforme as suas possibilidades de execução – de coração em “espírito e em verdade”. Dinheiro pode até vir, mas como conseqüência, não como causa para você estar lá.

Eu ainda me pergunto se minha amiga deseja é ter mais alegria no coração no convívio com outros irmãos que tenham uma linha mais próxima ao seu pensamento espiritual ou para ter um emprego e um salário garantido na conta no final do mês.

Ainda no meu trabalho também recebi o convite de um dito Pastor para que eu fosse trabalhar em sua igreja. Cuidar de algum departamento de música é realmente um prazer para mim e posso ajudar em alguma coisa. Mas o convite não ficou por aí. Sua sugestão era que eu pertencesse como membro de sua igreja até que eu conseguisse – e ia ser rápido – ser Ministra de Música.

Sei que há muitas instituições vendendo títulos por aí. Mas eu não sabia que seria tão fácil ser ministra, profetiza, sacerdotiza, pastora etc.

Graças a Deus este tipo de pretensão não passa por meu coração. Só que passam por mim e certamente atingirão outros/outras desejosos de obterem sucesso fácil e barato.

Penso que viver uma espiritualidade e uma religião que realmente nos ligue de novo a Deus passe necessariamente por se desligar desse mundo tangível e perverso, se afastar das típicas vaidades humanas e entregar-se ao Absoluto na simplicidade do viver.

Há tentações e é necessário se abster delas.

Eu estou imunizada.

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