quinta-feira, 24 de maio de 2007

Morrer é verbo intransitivo.



- Êda, desculpe-me a indiscrição, mas Sicrano morreu?
- Sim.
- De quê?
- Morreu apenas. Do quê não importa: morrer é verbo intransitivo. Quem morre morre e só.

Esta foi uma conversa que tive com uma de minhas melhores amigas há algum tempo.

Hoje, numa outra conversa, essa mesma amiga me perguntou sobre uma outra pessoa que havia falecido. Só que essa era praticamente de minha família.

Ao repetirmos o mesmo texto eu lhe perguntei: “Como assim, minha amiga? Intransitivo?

Ao que ela, como boa baiana que é, replicou:

- Oxe, menina! Mas foi você mesma que me ensinou! “Morrer é verbo intransitivo.”

Eu não me lembrava disso!

Quanto somos egoístas e insensíveis!

Quando a dor não é na nossa pele é como a ferida que a gente vê pela televisão: Longe, distante. Eu não sinto. Não é comigo.

Mas quando passa por minha casa, minha família, meus amigos, perto de mim...

Aí a gente fica sensível e compreende que regras da língua portuguesa ou quaisquer outras ficam à parte, longe de nossas considerações.

As imposições exteriores são frias e geralmente não passam por nossas emoções.

Palavras tomam novo sentido e cor quanto mais perto de mim estão.

O verbo é intransitivo, sim. Não mudou.

O que mudou foi o sentimento.

A dor agora é do lado de cá. Subjetiva.

E importa que seja compartilhada para não gerar maiores complicações.



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