Um homem também chora.
Cabelos alinhados, barba muito bem feita, unhas aparadas, conhecedor
de uma cultura invejável, bonito, de terno e gravata, empresário bem
sucedido e de postura corporal invejável. Quem o vê chegar assim logo
afirma: nada falta a este tão importante homem.
Chegando mais de perto, vivendo ao seu lado, você consegue perceber quanto de gente simples e insegura há por detrás de toda aquela aparência. Se for ver mais de perto, mais humano ainda: sofre, tem inseguranças, respira, tem fome e sede igual a todos os outros e é tão gente quanto qualquer outra pessoa que as pessoas, inadvertidamente, julguem como mais simples e/ou frágil que ele.
A propósito, não há um só homem sequer que não necessite do colo de uma mulher. Sua visão treinada para a caça e para se situar estrategicamente nos espaços, sua inteligência específica e sua força não fazem dele um super-homem, muito menos lhe atendem todas as necessidades afetivas.
Desde a sua infância a experiência de ter um bom e macio colo de mãe fez com que ele registrasse quanto apoio emocional havia ali e quão preciosa é a experiência de ter uma mulher no ombro de quem ele poderia chorar sem ser julgado. Ali ele havia sido acolhido, desejado, querido. Os itens necessários à formação de seus alicerces emocionais estavam estabelecidos para toda a sua vida e ele levaria a vida inteira buscando encontrar de novo essa doce concepção do paraíso.
Suporte emocional é o nome do colo de uma mãe. Se Freud está correto em seus conceitos sobre o Complexo de Édipo, indica que, de fato, o homem vai à busca de seu objeto de amor-mãe que será projetado para a mulher que será (?) escolhida (?) como o amor de sua vida.
O oráculo dizia que Édipo mataria seu pai para ficar com sua mãe. Depois de todo o cuidado que tiveram os mais velhos para afastar Édipo da mãe e evitar tão grande tragédia familiar, Édipo é criado noutro território. Torna-se homem, apaixona-se e casa-se por uma mulher desconhecida que, para sua surpresa, descobre que era exatamente sua mãe. Ou seja: não há escapatória. O desejo do menino seria mesmo a própria mãe.
O caso de Édipo explica porque os homens desejam colo. Vai perto da alma masculina e a desnuda, afirmando que todo homem é, no fundo, um menino que precisa de cuidados, amor, carinho, atenção.
Na condição de homem, o nosso saudoso Gonzaguinha se expressava poeticamente assim: “Um homem também chora, menina morena, também deseja colo, palavras amenas. Precisa de carinho, precisa de ternura, precisa de um abraço da própria candura. Guerreiros são pessoas tão
fortes, tão frágeis, guerreiros são meninos no fundo do peito... Precisam de um descanso, precisam de um remanso, precisam de um sono que os tornem refeitos... É triste ver meu homem guerreiro menino com a barra do seu tempo por sobre seus ombros. Eu vejo que ele berra. Eu vejo que ele sangra a dor que tem no peito pois ama e ama...”
Feminismos à parte, o homem pode ser rico ou pobre, bem sucedido ou não, “bonito” ou “feio”, gordo ou magro, independente ou não, todo homem necessita de apoio emocional e afetivo. Tomara que todos eles tenham isso assegurado para toda a vida. E admitam que sem as mulheres o mundo seria concreta e simbolicamente menos belo.
Marcadores: homem, Psicanálise Clínica
1 Comentários:
Lindo. Acredito em Édipo. Parabéns menina, texto ótimo.
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