sexta-feira, 1 de abril de 2011

Morte e Luto


MORTE E LUTO


Pouca gente gosta de falar da morte, embora ela esteja, indiscutivelmente presente em nosso cotidiano. Volta e meia e lá se foi um parente próximo, um amigo, um conhecido, uma pessoa famosa ou desconhecida até. E a notícia nefasta, dolorida, brava, forte, impiedosa, chega a nós: “fulano morreu.”

A depender do lugar emocional que a pessoa (ou animal, até) ocupe em nosso coração, a notícia vai doer mais em alguns casos, menos em outro, mas não passa sem deixar marcas. Ninguém gosta de perder. Ninguém quer perder ninguém.

A notícia da morte vindoura nos dá a chance de passarmos por cinco estágios de amadurecimento da idéia, sendo que o primeiro deles é a negação. Você realmente não quer acreditar que aquilo possa ser verdade, posto que assusta, amedronta, aterroriza. Logo após vem a fase da raiva, da barganha, da depressão e, enfim, a aceitação.

Pensar na morte é, por mais contraditório que possa parecer, pensar na vida. Nada mais certo, mais humano e mais democrático que ela, a “dita cuja”. Pobres, ricos, brancos ou negros, intelectuais ou incultos, crianças, jovens ou idosos, a morte vem sem pedir licença, sem ouvir nosso sofrimento, sem considerar os conflitos que gerará pela desorganização que provoca em nosso ânimo, em nossa vida. Ela vem e cumpre sua missão, com mão de ferro.

Por falar em sofrimento, vem o LUTO. A sensação de perda. As pessoas mais antigas costumavam usar o preto em suas vestes. Hoje em dia, embora isso não seja tão constante, o coração das pessoas estará, sim, em pranto, como se estivesse no escuro, triste, por algum tempo.

O luto é um processo natural pelo qual passam as pessoas que ficaram do lado de cá. É a dor necessária visto que a desordem, a falta, a ausência do nosso objeto de amor não estará mais presente, ao menos fisicamente.

Complicado é quando o luto se estende por muito tempo. Há teóricos que sugerem seis meses, outros que pontuam um ano para que a dor diminua e o enlutado siga normalmente sua vida. Um ano, explicam, marcaria o tempo de se passar todas as datas festivas, o que antes era comemoração, agora sem a pessoa amada.

Além desse tempo, podemos considerar esse luto carregado de melancolia como algo patológico e o enlutado, assim, deverá ser tratado com reverência, respeito à sua dor, mas também, se necessário, com cuidados profissionais. Ninguém merece viver a vida inteira chorando a dor de quem se foi.

O exercício de redimensionar a vida e de projetar seu amor, também, para outra pessoa não é fácil tarefa para muita gente. Pensar em novos projetos, em fazer a vida valer a pena, em continuar a viver com coragem e alegria é um ponto necessário para lhe ajudar a conviver com a dor, com a perda.

Dar uma nova direção e significação à sua existência é, para mim, um bom passo para superar o luto que, aos poucos, vai cedendo lugar a uma certa segurança interior, a uma saudade serena e paciente.

Não adianta se desesperar e não é razoável entrar em pânico. Admitir a morte de quem amamos com serenidade e ternura é um exercício que nos fará bem à vida, principalmente se nossa percepção espiritual estiver antenada à fé, à transcendência.

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1 Comentários:

Blogger Messias Brito de Jesus disse...

Muito bom!
O "American Way of life" criou uma ideia de felicidade onde a dor, o sofrimento e a morte não cabem. Como diria o Dalai Lama, "as pessoas vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido." Talvez se ao invés de afastarmos a experiência da morte tentássemos compreender que somos seres para a morte e que a própria vida não pode ser compreendida sem ela poderíamos superar de modo menos doloroso a ausência dos que amamos... Mais ainda, a consciência da morte pode nos possibilitar uma vida cada vez mais intensa, exuberante e plena, pois sabendo que cada momento pode ser o último faremos de tudo para torná-los extremamente especiais e eternos. Assim, como William Blake, poderíamos ver o mundo num grão de areia, o céu numa flor silvestre, o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora. Ou como Jesus, olhar as aves do céu e as flores do campo...
Abraços

21 de junho de 2011 às 18:24  

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