Depressão Pós Parto
A menininha, encantada com sua nova boneca, gasta toda a sua manhã arrumando o cabelo do novo “neném” e trocando sua roupinha. Depois, inevitavelmente põe o bebê para dormir em seu colo num inegável treinamento do que fará quando for grande e tiver oportunidade de ter um bebê de verdade em seus braços.
Aos poucos a maternidade feminina (termo quase redundante) vai vindo à tona. Antes mesmo do/a filho/filha nascer, a mulher já o/a desejou, já sonhou com ele/ela, já sorriu só de pensar na possibilidade de ver sair de si mesma um outro alguém que terá uma nova vida pela frente. Dizem que filhos são projetos daquilo que eu quis ser e não consegui em minha existência. Certamente por isso (além de outras complexidades) que a gente deseja ter filhos.
O sonho de ser mãe vem carregado de boas expectativas, de desejos, de alegrias mas também vem carregado de dúvidas e incertezas. Especialmente no contexto em que vivemos, neste mundo de ponta cabeça, a gente nunca sabe (e soube alguma vez?) o que vem pela frente. No fundo a gente quer mesmo é se perpetuar, quer se ver no rostinho do outro, quer se descobrir gente capaz de ‘fazer’ nova gente. Quer se projetar numa outra vida, quer se reproduzir.
Quem não se alegra vendo um pezinho pequenininho em crescimento? Ou quanta alegria há no coração de uma mãe quando percebe que tem, em seu colo, alguém que traz seu dna, que garante sua perpetuação? Quem vê tanta beleza assim não consegue imaginar quanta tristeza passa no coração de uma mãe que, fatalmente, se percebe triste, desanimada e desgostosa por ter acabado de parir. É mais ou menos assim que ocorre a Depressão Pós-parto. A mãe vai sentindo algo ‘errado’ em suas emoções e, ao contrário da esperada festa, começa a ter sentimentos estranhos em relação ao seu novo bebezinho, à si mesma, ao seu companheiro, à vida etc.
Emoções fortes após o parto são naturais. Quando nasce uma criança também nasce uma mãe. Ainda que já não seja “marinheira de primeira viagem”, aquela nova pessoinha deverá estar cercada de delicados cuidados e novos rituais na casa até que todos se acostumem com a novidade. E quão boa e inusitada é sempre essa ‘novidade’.
Para algumas mães, entretanto, o bicho papão da Depressão Pós Parto vem como vontade de chorar, com ansiedade, com intolerância, tristeza, desânimo, falta de apetite, angústia. Além dessas coisas, a mãe se sente culpada por não ‘desejar’ aquele bebezinho recém-nascido e até pode desenvolver pensamentos de morte. Morte para ela mesma e até para o bebê. Ela, a mãe, não entende o que está acontecendo com seus sentimentos e emoções e sofre. Sofre muito com toda essa situação.
As causas da Depressão Pós Parto podem vir de fatores biológicos (como por exemplo prédisposição familiar para depressão ou problemas hormonais) e/ou fatores psicológicos como baixa auto-estima, ansiedade ou sentimentos negativos acerca da gravidez; má relação com sua própria mãe - que será projetada para a criança; problemas familiares (especialmente com o companheiro); problemas financeiros etc.
Consequência da depressão na mãe, a criança poderá ter dificuldades em seus relacionamentos interpessoais, para agravar ainda mais a situação, tendo em vista que ela ficaria diretamente afetada com a situação depressiva de sua genitora. Essas crianças podem se tornar pessoas inseguras e difíceis pois tiveram, em seus primeiros momentos de vida, relação conflituosa com suas mães.
Para minimizar toda essa situação é estritamente importante que a mulher-mãe seja acolhida e compreendida em seus sentimentos, especialmente se ela for acometida de crises depressivas no seu pós parto. Que não seja julgada se apresentar “curiosamente” certa tristeza após o parto.
Quanto ao tratamento, esta mãe deverá ser encaminhada a fazer uso de medicação (indicada por um médico psiquiatra) e/ou psicoterapia. Valerá, além disso, ter amigos por perto, ter oportunidade de falar/desabafar e ser ouvida com o devido acolhimento e respeito e acima de tudo contar com muito apoio familiar.
Mulheres grávidas podem ser acometidas por diversos problemas tanto em sua gravidez quanto depois do parto. De qualquer forma, ainda que plenamente realizadas, devem ser atendidas com cuidado, carinho, atenção.
Ser mãe é a forma mais sagrada de perpetuar a vida. Seja, então, alegre e realizadora a maternidade.
Marcadores: Psicanálise Clínica
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