terça-feira, 20 de setembro de 2011

Aos meus colegas analistas



Pra todos os lados a constatação é uma só: estamos no século da depressão.

Há uma espécie de mal estar coletivo que agride, maltrata, desintegra, fragiliza o ser humano, mesmo enquanto ele desfruta de boa tecnologia, de uma economia em desenvolvimento ou de outras ‘regalias’ da vida moderna.

O Prozac, medicação psiquiátrica, mais do que nunca, tem sido receitado como a ‘pílula da felicidade’, constatando que cada vez mais a gente tem menos sentimento de onipotência e auto-suficiência e nossa vulnerabilidade e insegurança tem aumentado geometricamente.

Há autores que sinalizam que esse tipo de sofrimento seja fruto de um crescente individualismo, somado a uma crescente globalização massificante. Cada vez mais tentamos viver para nós mesmos, com olhos em nossos próprios umbigos e vamos nos enfraquecendo como pessoas, como seres de relacionamentos que somos.

Nossa dor é moral, é psíquica. O que antes era reconhecido como neurose de angústia, hoje é detectado em vários dos nossos pacientes como Síndrome do Pânico, demonstrando claramente que não estamos instrumentalizados para lidarmos com nossa impotência e fragilidade humanas.

Apesar de ser questionável, se pretende eficácia na utilização das drogas para ajudar nesse tipo de sofrimento. O consultório anda cheio de gente que, dentre outras queixas, pontua uma tristeza sem aparente motivo, uma insegurança angustiante, uma falta do que quase não tem nome.

A Depressão que é uma agressão voltada para dentro, carregada de emoções negativas, faz ferver dentro de nós um caldo bioquímico tóxico bastante desconstrutivo. O preço disso é alto, sim, embora nossos conflitos subjetivos pareçam ser ainda maiores e mais graves que supostas falhas químicas desse ou daquele hormônio, desse ou daquele neurotransmissor.

A síndrome das metrópoles reforça o sentimento de que estamos sozinhos em meio a multidão e essa percepção é mais comum do que se imagina, mesmo em cidades menores como Jequié, onde moramos. Pessoas se sentem sozinhas, desamparadas, tristes.


Esse estado de coisas deve nos levar a considerar que o amor conta muito, principalmente se a gente pretende pensar em alguma cura. Em especial, tenhamos em ênfase expressões mais brandas de amor como o companheirismo, a amizade, o afeto, o acolhimento e a tolerância, tendo em vsita que paixão – sentimento intenso e arrebatador – passa com o tempo.

Incluo na indicação de amor que tenhamos também paciência para ouvir o outro. Ouvir sem elaborar julgamentos ou condenações. Para acolhê-lo em sua dor. Seja ela (a dor) o que for. Seja ele (o paciente), quem for.

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